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O Brasil registrou nesta segunda-feira seu primeiro caso suspeito de infecção pelo superfungo Candida auris, que já causou infecções em outros países da América do Sul.
O patógeno foi identificado em uma amostra de ponta de cateter de um paciente que havia sido internado com Covid-19 numa unidade de terapia intensiva na Bahia.
Segundo artigo da BMC Infectious Diseases, a taxa de mortalidade dele é de 39%.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) chegou a emitir um alerta nesta terça-feira, pontuando que o Candida auris é "um fungo emergente que representa grave à saúde global" e que algumas cepas dele são resistentes a todas as principais classes de fármacos antifúngicos.
Segundo Flávio Telles, professor de Infectologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do comitê de micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a chegada do Candida auris ao Brasil acende um alerta, mas não representa um perigo equivalente à vinda do SARS-CoV-2.
O infectologista explica que o superfungo é um germe intra-hospitalar e costuma colonizar equipamentos, instrumentos e pacientes internados.
Para pacientes de risco, que estão em UTIs ou que foram submetidos a alguma cirurgia, ele representa uma ameaça maior, pois é capaz de adentrar o organismo e causar uma doença grave conhecida como candidíase invasiva ou candidemia, um tipo de sepitcemia (infecção na corrente sanguínea) que pode levar à morte.
A candidemia pode ser causada por outras espécies do fungo, mas o Candida auris chama atenção por ser especialmente resistente aos tratamentos disponíveis contra a candidíase. E, no contexto da pandemia de Covid-19, os riscos apresentados pelo superfungo têm ainda outro agravante:
— Como a Covid-19 tem provocado muitas internações, e internações prolongadas, o risco de contágio pelo Candida auris é maior. Se ele se espalhar, vai ser mais um problema de saúde pública. Ele é difícil de ser eliminado do hospital — diz o infectologista.
Ainda segundo o infectologista, apenas 5% das amostras de Candida auris são resistentes a todos os antifúngicos disponíveis. No entanto, em grande escala, mesmo essa pequena proporção pode significar um desafio para a gestão de saúde pública.
Além disso, a detecção do superfungo depende de uma tecnologia complexa e cara que atualmente está concentrada em laboratórios de microbiologia especializados, como os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens).
— Na prática, o Candida auris pode ser confundido com outras espécies do fungo, o que dificulta o tratamento. A detecção do germe é feita por espectometria de massa por um método chamado Maldi Tof. Cada equipamento custa em torno de R$ 1 milhão — estima Telles.
No entanto, o infectologista lembra que o Candida auris costuma se restringir aos ambientes hospitalares e não é tão contagioso quanto outros patógenos, como o vírus SARS-Cov-2, causador da Covid-19, por exemplo.
Desde 2009, quando o primeiro caso foi notificado no Japão, houve cerca de 4,7 mil episódios de infecção pela Candida auris em todo o mundo, de acordo com artigo publicado por pesquisadores chineses na revista científica "BMC Infectious Diseases".
O maior surto já registrado do superfungo aconteceu em Londres em 2015, com 22 pacientes infectados e outros 28 colonizados.
Estudos apontam que, diferentemente da Covid-19, que contamina também pelo ar, o superfungo se espalha pelo contato com superfícies infectadas.
Por isso, para evitar o avanço do patógeno, o paciente contaminado deve ser isolado dos demais e o local de sua internação deverá ser higienizado com desinfetantes hospitalares específicos, durante e imediatamente após sua estadia.
Por Jornal Extra
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