Durante agenda oficial nesta sexta-feira (11), no município de Linhares, no Espírito Santo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusando-o de ter enviado o filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), aos Estados Unidos com a missão de interferir politicamente nos desdobramentos da ação penal que o ex-mandatário responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Em tom indignado, Lula se referiu ao ex-presidente como “aquela coisa covarde” e associou a viagem de Eduardo à recente decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
“Aquela coisa covarde, que preparou um golpe neste país, não teve coragem de executar. Está sendo processado, vai ser julgado, e mandou o filho dele para os Estados Unidos pedir para o Trump fazer ameaça. ‘Ah, se não liberarem o Bolsonaro, eu vou taxar vocês’”, afirmou Lula.
Crise diplomática e retaliação comercial
O episódio ocorre em meio a uma nova tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos. O anúncio das tarifas por Trump foi recebido com surpresa e críticas por lideranças políticas brasileiras e setores da indústria exportadora. As tarifas devem atingir setores estratégicos da economia nacional, como o agronegócio, a indústria metalúrgica e o setor de bebidas, prejudicando diretamente a competitividade dos produtos brasileiros no mercado norte-americano.
Segundo aliados do governo, há fortes indícios de que a medida tem motivação política e foi articulada após encontros entre Eduardo Bolsonaro e membros do círculo próximo de Trump. A viagem do deputado coincidiu com um aumento no tom de críticas por parte de líderes republicanos ao sistema judiciário brasileiro, acusando o STF de perseguir Bolsonaro.
STF monitora movimentações
Ministros do Supremo Tribunal Federal acompanham com atenção os desdobramentos da viagem e da retórica internacional em defesa de Bolsonaro. Há preocupação de que os Estados Unidos estejam preparando terreno para um eventual pedido de asilo político, o que poderia dificultar a responsabilização do ex-presidente, caso ele venha a ser condenado. Jair Bolsonaro teve o passaporte retido por ordem judicial e está impedido de deixar o país.
Governo brasileiro promete reação
O governo Lula estuda medidas legais e diplomáticas para contestar as tarifas impostas por Trump. O Ministério das Relações Exteriores trabalha para mobilizar apoio de países aliados no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), além de manter diálogo aberto com o governo Biden, que oficialmente permanece neutro, mas tem sofrido pressão interna pela oposição.
Lula também afirmou que o Brasil acumula um déficit comercial com os EUA superior a US$ 400 bilhões nos últimos 15 anos e que não aceitará “chantagens políticas disfarçadas de sanções econômicas”.
“O Brasil é um país soberano. Não vai aceitar ser ameaçado porque a Justiça está cumprindo seu papel”, completou o presidente.
Eduardo Bolsonaro não se pronunciou
Até o momento, o deputado Eduardo Bolsonaro não se pronunciou oficialmente sobre as declarações de Lula. Em entrevistas anteriores, o parlamentar afirmou que sua visita aos Estados Unidos teve caráter “institucional e estratégico”, negando qualquer tentativa de interferência nos assuntos judiciais do pai.
A escalada na retórica entre os dois polos políticos reforça o clima de polarização no país e indica que os desdobramentos do julgamento de Bolsonaro devem continuar repercutindo tanto no cenário interno quanto nas relações exteriores do Brasil.